quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Infante D. Henrique e a sua Obra


O Infante D. Henrique é o quinto filho do casal D. João I e D. Filipa de Lancaster e nasceu no Porto, no dia 04 de Março de 1394. Em 1405, o Infante D. Henrique esteve a passar uns tempos, que não terão sido os únicos, na Corte Inglesa com os primos ingleses((MEDINA J.; vol. IV; 1994; p.17) e a adquirir saberes com um povo também de sonhos marítimos.

Durante a sua juventude, praticava desporto e artes de guerra e D. João I, seu pai, confia-lhe a organização da frota concentrada no Porto com gentes do Norte e da Beira para a expedição a Ceuta. Reuniu 70 navios grandes e muitos outros de abordagem.

Como o ano decidido para a partida da expedição a Ceuta foi 1415, certamente, pelo menos a partir de 1410, o Infante D. Henrique terá começado a visitar Lagos para preparar a logística para esta expedição e para a base estratégica permanente de Ceuta nesta cidade.


Porquê Lagos como base estratégica na defesa de Ceuta e posteriormente na empresa dos Descobrimentos?

Pelos mesmos motivos que levaram tantas embarcações desde a proto-história a fazerem uma paragem em Laccobriga para abastecimento de alimentos frescos, víveres e água muito cristalina e boa e tantas gentes a fazerem deste local a sua morada. Grande parte dos terrenos da zona baixa eram terrenos alagados e, portanto, terrenos muitos férteis e indicados para hortas como as terras do Paúl. Na página 43 do livro consultado lê-se que «Lagos está assentada ao longo da costa do mar e que tem uma baía de légua e meia de praia na qual se pode desembarcar com todo o género de navio. Esta cidade tem comércio com todo o Levante e Poente de donde vem a ela muitos navios e embarcações de toda a sorte com vária mercadoria e isto por causa de grande carregação de atuns e sardinhas e outros peixes que nela há abundantemente e o próprio vinho e pão. É uma cidade sadia e de muito bons ares e a água não lhe falta e é razoavelmente povoada e de gente de toda a sorte.»

Domingos de Mello, deputado no Congresso em Lisboa e natural de Lagos, afirma que "nenhuma das cidades marítimas de Portugal tem uma baía tão bela, espaçosa e capaz como Lagos coberta dos ventos Norte-Noroeste e Oeste-Noroeste aonde em todos os tempos as armadas nacionais e estrangeiras ou fossem navegando para o Mediterrâneo ou vindo para o Oceano, ali faziam escala para se refazerem de refrescos, carnes e da preciosa água que tem." (livro consultado p.67)

Esta informação também era verdadeira para os séculos XIV e XV e toda a família real o sabia, pois Lagos era uma cidade muito conhecida na época exactamente por causa destas suas características. O Infante D. Henrique também o sabia e o rei D. João I e assim escolheram Lagos para base estratégica na defesa de Ceuta, provendo esta água, alimentos e bens que lá fossem necessários para consumo, defesa e comércio.

O que encontrou o Infante D. Henrique em Lagos para além das características já suas conhecidas desta cidade?

Encontrou uma cidade dividida, com dois níveis muito acentuados de gente que se odiava: um grupo – o dos privilegiados – de ordem defensiva, vivendo na cidade murada; outro grupo – o dos não-honrados – de produção e vivendo na área mais baixa e mais afastada da vila. De permeio, uma colina não habitada onde pastava gado bovino e cavalar.
Primeira vontade decisiva de D. Henrique foi acabar com esta discriminação e situação. Reuniu os melhores técnicos europeus em urbanização que conhecia e o planeamento urbanístico começou.
Assim ficou decidido drenar as duas ribeiras – Ribeira dos Touros e Ribeira das Naus – e enchê-las de terra para construir dois largos caminhos.
Segunda decisão essencial – passar a cidade de dois pólos para três pólos dentro da cidade murada, um em cada colina:

1.oPólo da igreja Nossa Senhora da Graça que passa a pólo da Ermida Nossa Senhora da Graça. A igreja Nossa Senhora da Graça passa para Sagres no interior da futura Fortaleza de Sagres e a fazer parte deste complexo do qual faria parte também a Escola de Estudos Superiores Náuticos com a célebre rosa-dos-ventos que ainda hoje lá existe e as instalações da dita Escola.

2.oPólo da igreja de Santa Maria da Graça. A igreja da cidade de Lagos passa a situar-se no centro da nova cidade murada na parte baixa da colina do meio – futura colina de Nossa Senhora do Carmo – chamar-se-á igreja de Santa Maria da Graça e ficará perto do porto que se situava junto da Casa do Governador. Este novo pólo a criar terá dois núcleos: um na baixa, rodeando a igreja da cidade ligado à exportação e importação e ao comércio local e outro pólo no alto da colina rodeando a futura ermida Nossa Senhora do Carmo, pólo ligado aos habitantes que cuidavam dos terrenos agrícolas de sequeiro que a rodeavam.

3.oPólo da ermida de Nossa Senhora da Conceição que reúne a sua população tradicional da colina (pescadores), da zona baixa ao longo do rio de Lagos (comerciantes) e das hortas (agricultores) da primitiva Lacóbriga (sempre extramuros).

Assim a nova cidade murada de Lagos assemelhar-se-á a uma coroa real olhando para o Atlântico com três pontas e mais duas formando a base: cinco pontas, um pentágono.
Partamos para os pormenores deste grandioso projecto.
Em 1385, segundo o recenseamento realizado, havia dentro da cidade murada 1500 a 2000 vizinhos (famílias) de gente militar. Gente da quarta esfera, os negociantes, os marítimos que tratavam das almadravas (armações para a pesca do atum) e de 22 acedares (armações para a pesca da sardinha) e outros indivìduos viviam em casas localizadas fora das muralhas por lhes ser proibido dentro da vila murada. (livro consultado, p. 355)
Na p. 356 do mesmo livro, somos informados de que, em 1433, com o Infante D. Henrique, havia 1100 fogos no interior da Praça (vila murada); 200 fogos na Aldeia da Porta do Postigo (ao redor da Ermida da Nossa Senhora da Conceição); 450 fogos na periferia (ao redor da ermida de Nossa Senhora do Carmo).
Após a drenagem das duas ribeiras, a colina do meio passou a ser a parte mais importante da vila de Lagos onde foram construídas as casas privativas do Infante, na Ribeira (todo o espaço longitudinal ao longo do rio de Lagos na colina do meio entre as anteriores Ribeira dos Touros e Ribeira das Naus). Havia prosperidade económica. Era também o centro de explorações marítimas com grande actividade comercial e também a residência dos mareantes do Infante (estudantes da Escola Superior Náutica de Sagres que tinham a sua prática nas expedições para descobrimento de novas terras e novas gentes).    
Ao mesmo tempo em que era feita a drenagem das duas ribeiras, era construída a igreja da cidade, igreja de Santa Maria da Graça, com curado e para ser inaugurada em Agosto de 1415, no dia em que a expedição partisse para Ceuta com o rei, D. João I, os seus três filhos e D. Nuno Álvares Pereira ao comando e assim os clérigos desta igreja - paroquial - dariam a sua benção à expedição. Esta igreja planeou-se situar-se exactamente no centro da colina do meio, centro da Nova Lagos murada.
Antes de 1415, é então mandada edificar por D. João I, mas por decisão do seu filho, o Infante D. Henrique. Esta igreja na rua Nossa Senhora da Graça que actualmente ainda existe com outra função e cuja frente da igreja ainda existe também, perto do Mercado dos Escravos e dos Paços do Concelho (actual Messe Militar) passa a ser a igreja paroquial e freguesia dos habitantes intramuros.
Em 1415, o Infante D. Henrique destacou-se na conquista da cidade de Ceuta, onde o seu pai o armou cavaleiro e aos seus dois irmãos mais velhos. Em Setembro de 1415, tornou-se Duque de Viseu e Senhor da Covilhã.
No dia 18 de Fevereiro de 1416, passou a ser Administrador e Governador da Ordem de Cristo e também em 1416, D. João I confia ao seu filho D. Henrique o encargo de administrar o dinheiro destinado à defesa de Ceuta.
A necessidade de navegar por mares percorridos por grandes tempestades, por regime de ventos e por grossas correntes marítimas que arrastavam até às Canárias e posteriormente até ao arquipélago da Madeira navios portugueses encarregados da defesa costeira meridional de Portugal e de Ceuta, levou o Infante D. Henrique a iniciar a exploração dos mares e a lançar-se na empresa dos descobrimentos.
A 13 de Novembro de 1460, o Infante D. Henrique faleceu na Raposeira e nessa mesma noite ficou sepultado em Lagos, sua Vila (do Infante) nesta igreja Matriz de Santa Maria da Graça. A escolha desta igreja, que era igreja Maior, paroquial, para primeira sepultura do Infante D. Henrique até à sua trasladação para a jazida real do Mosteiro de Santa Maria da Batalha em Lisboa, leva-nos a supor que este acontecimento ainda mais elevou a importância de Lagos.
Em 1490, faz-se a conclusão das grandes remodelações na cidade: são construidas a Praça dos Touros onde antes era a desembocadura da Ribeira dos Touros (actual Praça do Infante D. Henrique) e a Praça do Cano (actual Praça Gil Eanes) onde era a desembocadura da Ribeira das Naus. Os centros populacionais já estão unidos e passam a um só com duas freguesias: Santa Maria da Graça e S. Sebastião.
Relativamente ao quotidiano em Lagos, segundo documento de 08 de Julho de 1410, D. João I isenta os lacobrigenses do pagamento de sisa (imposto sobre o valor das transacções) sobre os bens comprados aos venezianos.
O centro de Lagos expande-se pelos subúrbios extramuros em torno da estrada para Sagres que agora é importante centro devido à Escola Superior de Estudos Náuticos que o Infante D. Henrique lá fundou dentro da Fortaleza de Sagres que ainda lá se encontra. O número de casas aumenta a tal ritmo que em tempos do rei D. Manuel I atingiu a colina de Nossa Senhora da Conceição/S. Sebastião.
No dia 26 de Julho de 1415, D. João I entra na baía de Lagos com a esquadra que iria tomar Ceuta, no Norte de África, formada por 19 000 combatentes, 1700 marinheiros e 200 navios. Ao terminar esta campanha, também desembarcou na baía D. João I e o Condestável D. Nuno Álvares Pereira que, após, seguiram para Évora. Ceuta era um importante centro comercial terrestre e marítimo. Situava-se numa região agrícola rica e num bom ponto estratégico que dominava o Estreito de Gibraltar e podia servir de base para novas conquistas.
Da baía de Lagos saíram as primeiras caravelas com os mareantes do Infante que passam além dos conhecidos limites do mundo de então.
Em Lagos passam a morar grande número de ingleses, facto relacionado com a ascendência inglesa do Infante D. Henrique e a sua proximidade afectiva à corte inglesa e o desenvolvimento marítimo a nível de estudos, a nível de viagens e a nível de comércio de exportação/importação que se vivia naquela altura em Lagos.
A concretização deste planeamento ultrapassará a vida do Infante D. Henrique. Será o rei D. Manuel I que mandará construir as muralhas estabelecidas neste plano e assim completar este projecto gigantesco do Renascimento realizado na cidade de Lagos quatrocentista.


Em 1415, destacou-se na conquista da cidade de Ceuta, onde o seu pai o armou cavaleiro e aos seus dois irmãos mais velhos. Em Setembro de 1415, tornou-se Duque de Viseu e Senhor da Covilhã.
No dia 18 de Fevereiro de 1416, passou a ser Administrador e Governador da Ordem de Cristo e também em 1416, D. João I confia ao seu filho D. Henrique o encargo de administrar o dinheiro destinado à defesa de Ceuta.
A necessidade de navegar por mares percorridos por grandes tempestades, por regime de ventos e por grossas correntes marítimas que arrastavam até às Canárias e posteriormente até ao arquipélago da Madeira navios portugueses encarregados da defesa costeira meridional de Portugal, levou o Infante D. Henrique a iniciar a exploração dos mares e a lançar-se na empresa dos descobrimentos. Durante o reinado de D. João I surge o descobrimento de Porto Santo (1419), da Madeira (1420) e do grupo oriental dos Açores (1427). D. Henrique persegue este sonho de descobrir o Desconhecido, quer saber o que está para além de ... com os seus marinheiros, cavaleiros e escudeiros, mercadores e capelães, ele vai experimentar durante 45 anos, o que é obedecer a um plano cientificamente estudado, ao mesmo tempo, expor a sua vida à Fortuna. Na concepção da época, renascentista, o homem individual integrava-se num todo. Diligente e persistente, o êxito das primeiras expedições marítimas entusiasmam-no ainda mais e no dia 20 de Maio de 1420, é investido pelo Papa Martinho V, ficando deste modo com valiosos recursos para a realização do seu sonho ultramarino.
Para o adestramento técnico dos seus marinheiros e para arquivar as experiências e realizações obtidas, D. Henrique rodeou-se de peritos, fundando em Sagres uma autêntica Escola Superior de Estudos Náuticos, chamando a Portugal, entre outros mestres, o já célebre cartógrafo Jácome de Maiorca que, com os elementos fornecidos pelos navegantes portugueses, elaborou novas cartas náuticas.
Entre os interesses determinantes da dedicação do Infante D. Henrique às navegações contam-se os de ordem religiosa – espírito de cruzada que lhe impunha a defesa política e económica e a propagação da fé católica, mas a sua dedicação à empresa marítima não era em exclusivo.
Não desligado dos problemas nacionais e em especial da universidade de Lisboa de que era protector atento, os seus interesses também se centravam nas terras de além-mar e para isso viveu a maior parte do seu tempo para a Escola Superior de Estudos Náuticos em Sagres.
Enormes eram os problemas que tinha para resolver e estavam sob a sua responsabilidade:
  • a preparação e execução das expedições marítimas,
  • a colonização dos arquipélagos da Madeira e dos Açores,
  • as relações com África recém-descoberta nas perspectivas comercial, política e missionária,
  • a responsabilidade do governo da Ordem de Cristo,
  • a defesa dos direitos e interesses de Portugal junto do Papa e do rei de Castela.
Em 1431, reorganizou os estudos da Universidade de Lisboa, onde introduziu os estudos da Matemática e da Astronomia, universidade que dava apoio a vários níveis à Escola Superior de Estudos Náuticos de Sagres e como podemos verificar também obtinha vantagens deste protocolo.
Em 1437, participou na infeliz expedição a Tânger e na conquista de Alcácer Ceguer, em 1457. Será denominado o Navegador e assim ficará conhecido na História Portuguesa e Universal.
No dia 20 de Maio de 1449, na crise que culminou na batalha de Alfarrobeira, o Infante D. Henrique esforçou-se por defender o irmão, Infante D. Pedro, em Santarém; mas em Alverca, respeitando a autoridade do sobrinho e rei, manteve uma atitude passiva ao lado do rei, D. Afonso V. (OLIVEIRA M. A.; 1990; pp. 221, 266, 275.)
Em 1449, em Alfarrobeira, morre o Infante D. Pedro na batalha, já sem a regência. Quando D. Pedro deixa a regência vai viver para o seu ducado de Coimbra, mas parece estar em graves dificuldades financeiras. Surge um conflito familiar entre D. Pedro e o casal real, mas era ao rei que cabiam todas as decisões da Coroa.
Há um momento em que D. Pedro se recusa a cumprir uma ordem de D. Afonso V, receoso de cair nas mãos dos seus adversários, conselheiros do rei. O Infante D. Henrique intervém em Santarém e o conflito parece resolver-se. D. Afonso V chama à corte D. Afonso, Duque de Bragança e D. Pedro, Duque de Coimbra, para que o conflito entre os dois ficasse resolvido de vez. D. Pedro nega passagem ao Duque de Bragança quando este tenta passar por Coimbra para chegar à Corte em Lisboa. D. Pedro decide ir pedir justiça ao rei, seguindo à frente dos seus 6000 homens de armas. O rei prepara-se para tudo, pois Portugal não pode ficar dividido. O rei avança com muitos mais homens contra o tio. O tio, D. Pedro, vê-se perseguido, insultado no caminho pelos soldados do rei e consegue mandar matar cerca de trinta, sendo um deles, fidalgo da Casa do Infante D. Henrique. Em Alfarrobeira, os homens de armas de D. Pedro e do rei com o Infante D. Henrique estão frente a frente. Os soldados do rei começam as escaramuças e D. Pedro manda disparar as bombardas. Muitos dos homens de D. Pedro abandonaram-no antes da batalha e D. Pedro morre a lutar.
Dos vários testemunhos que ainda existem sobre o Infante D. Henrique, transcrevo o que encontrei na Crónica do Senhor José Paula Borba «LAGOS esta cidade que eu amo ...» no jornal CORREIO de LAGOS n.o 244 de Novembro/Dezembro de 2009: texto "(...) relatado pelo navegador Diogo Gomes que também era um fiel servidor da Casa do Infante.
«No ano do Senhor de 1460, o Senhor Infante D. Henrique adoeceu na Raposeira que fica perto do Cabo de S. Vicente, do que morreu a 13 de Novembro do dito ano, numa quinta-feira. E naquela noite em que morreu, levaram-no para a Igreja de Santa Maria (da Graça), na Vila de Lagos – Vila do Infante, onde foi sepultado honrosamente. E o rei, o Afonso (V) estava então na cidade de Évora e ficou muito triste com o seu povo pela morte de tão grande senhor; porque todos os rendimentos que tinha e tudo o que provinha da Guiné gastava em guerra e em contínua armada no mar contra os sarracenos, pela fé cristã. No fim do ano, o rei Afonso mandou-me chamar, pois continuamente eu ficara, por mandado do rei, em Lagos, junto do corpo do Infante, dando o que era necessário aos sacerdotes que se empregavam em contínuas vigílias e no Ofício Divino e mandou que eu visse e examinasse se o corpo do Infante estava putrefacto porque queria trasladar os ossos dele para o Mosteiro, realmente formosíssimo, que se chama Santa Maria da Batalha, que seu pai, o rei D. João I, edificara com frades da Ordem dos Pregadores. Eu, com efeito, chegando ao corpo do defunto, descobri-o e encontrei-o seco e integro. E encontrei-o cingido por cilício áspero de sedas de cavalo; pois bem canta a Igreja: non dabis sanctum tuum videre corruptionem (não permitirás que o teu santo sofra a corrupção). O qual Senhor Infante até à morte permaneceu virgem e fez em sua vida muitos benefícios que seria muito extenso contar. Então, o rei mandou ir o seu irmão Senhor Infante D. Fernando, duque de Beja e os bispos e condes afim de levarem o corpo até ao Mosteiro da Batalha supradito, onde o rei esperava o corpo do defunto. E foi posto o corpo do Infante na capela formosíssima e grande que o seu próprio pai, o rei D. João I fizera, onde o mesmo rei jaz com sua esposa D. Filipa, mãe dele e cinco irmãos do mesmo, dos quais todos louvável memória haverá até à eternidade. E descansam em santa paz. Amem.»
Para terminar esta evocação, não posso deixar de incluir o belo soneto do nosso poeta Vieira Calado.

Baía e Infante D. Henrique
Na curva inolvidável da Baía
que ao mar bravio roubou o Bojador,
paira a sombra fantástica vigia
desse Infante que foi navegador.
Pega a bússola, a régua, a fantasia,
arrasa velhos mitos sem temor
e em Lagos e em Sagres dia-a-dia
faz argonauta o sábio e o pescador.
Desencobre dos mares os segredos
e no abismo dos mitos derradeiros
desfaz em clara luz p'rigos e medos.
E tu, Lagos, berço dos marinheiros,
és a própria figura do Infante
que ao Mundo mundos deu, mais adiante.

sábado, 6 de outubro de 2012

A Marina de Lagos





A Marina de Lagos veio dar muitas e diversas oportunidades à cidade.
Integrada num complexo turístico de grande qualidade, a Marina de Lagos oferece-lhe uma experiência de vida única. Afinal, é um privilégio ter o mar como vizinho da frente, a histórica cidade de Lagos como vizinha de um lado e excelentes campos de golfe do outro e, as praias mesmo à porta de casa.
Um privilégio que merece ser partilhado. Por isso, tem à sua disposição um conjunto de edifícios que prestam homenagem ao papel que Lagos desempenhou no período das descobertas e nos quais também tem muito a descobrir.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O Cemitério de Lagos


O Cemitério de Lagos

O cemitério de Lagos encerra muita história e são muitos os turistas que o procuram para visitá-lo certamente já informados por amigos e conhecidos das suas terras porque, por nós, não é divulgado pelos circuitos de turismo.
Porque é que eles o procuram?
Acredito que seja porque nas suas terras já não há cemitérios assim, mas sim semelhantes ao cemitério novo que cá temos. Este cemitério que os turistas procuram talvez numa nostalgia dos seus antigos cemitérios é o cemitério dos jazigos e das campas de mármore, das obras de escultura neoclássicas que os ornamentam e também dos nomes das famílias ilustres que por cá viveram e foram falecendo e que de muitas maneiras contribuíram para o bom nome desta cidade.
Gostaria de recordar que este é o primeiro cemitério da cidade de Lagos e que data de 14 de Abril de 1893.
Até ao século XIX, os enterramentos faziam-se dentro e fora das igrejas-paróquias de S. Sebastião e de Santa Maria da Graça que era a igreja matriz até ao terramoto de 1755 e após na igreja da Misericórdia que depois se denominou igreja de Santa Maria.


A 01 de Novembro de 1755, a igreja matriz de Santa Maria da Graça é arrasada pelo terramoto e não é recuperada. A Câmara Municipal atribuiu as funções de cemitério ao espaço ocupado pelo convento e hospital S. João de Deus que circundavam a igreja e que também tinham ficado arrasados – cemitério da paróquia de Santa Maria da Graça - que, por vários motivos, incluindo as epidemias da peste e da cólera, foi projecto que durou muito pouco, sendo o cemitério abandonado e demolido. Nesta altura, já se pretendia separar o cemitério da igreja embora ficasse contíguo.


A 14 de Abril de 1893, a Câmara Municipal ordena que se façam os enterramentos na freguesia de S. Sebastião, no lado de fora das muralhas, mais exatamente do baluarte da Porta do Postigo, para ambas as freguesias. (PAULA, Rui M.; Lagos – evolução urbana e património; edição de Câmara Municipal de Lagos; Lagos, Outubro de 1992, p.367)
meu filme no youtube:

domingo, 4 de março de 2012

As Amendoeiras em Flor do Algarve


 
  
Hoje venho partilhar convosco este momento lindo e também o filme que fiz para este tema cujo link está no fim deste texto.
Neste mês de Fevereiro, pelo meu caminho em Lagos, encontrei, entre outras, uma amendoeira jovem e carregadíssima de flores. Fiquei contente porque isso é prenúncio de muitas amêndoas este ano, pois cada flor será uma amêndoa, se não for arrancada à árvore. Assim deixei todas as flores na árvore e fixei o momento com a máquina fotográfica. Na minha adolescência, aprendi que, em Portugal, só temos amendoeiras no Algarve e no vale do rio Douro e, apesar de se tratar de um facto, achei isso lindo: parecia-me um abraço entre o sul e o norte.
Mais uma vez, me lembrei da Lenda das Amendoeiras em Flor. Conta a lenda assim:

Há muitos séculos, entre os anos 716 e 1248, os árabes ocuparam todo este território que anteriormente tinha sido ocupado pelos romanos e a seguir pelos visigodos. Os árabes tinham, neste território, o mesmo sistema administrativo que tinham nas suas terras, isto é, cidades-Estado como os territórios que depois se denominaram Itália, Grécia, … Era comum naquela época. Os árabes denominaram esta parte do território Al-Gharb e em Chelb, futura Silves, reinava o famoso e jovem Ibn Almundim que nunca tinha conhecido uma derrota, pois eles andavam sempre em guerra: ou uns contra os outros ou contra os infiéis.
Certo dia, entre os prisioneiros que os oficiais-militares de Ibn Almundim trouxeram de uma grande batalha,1 este viu uma linda jovem, princesa, de olhos azuis e porte altivo. Chamava-se GILDA e era conhecida como a Bela Princesa do Norte (mais precisamente do Leste). Impressionado com tamanha beleza, o rei mouro tirou-a das concubinas para o servir e, a pouco e pouco, foi-lhe conquistando a confiança. Certo dia, confessou-lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua esposa, depois de adoptar a religião muçulmana.
Durante algum tempo foram muito felizes e o palácio estava sempre em festa, mas a princesa Gilda ia ficando cada vez mais triste e mais doente; uma tristeza profunda que a fazia recusar a comida e passava os dias sozinha nos seus aposentos sem querer ver ninguém …
Ibn Almundim mandou chamar os melhores médicos do seu reino e de reinos mais distantes, mas nenhum conseguiu curar a sua amada e ele já estava desesperado.
O acontecido espalhou-se por todo o palácio e chegou ao conhecimento dos prisioneiros que vieram com Gilda. Então um cativo já idoso, ainda familiar/serviçal de Gilda, pediu ao rei para ser recebido e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve abundante que havia no seu país distante. O rei de imediato chamou os seus conselheiros que lhe sugeriram que mandasse plantar amendoeiras por todo o reino. Muitas amendoeiras e, quando estas florissem e as suas pétalas caíssem ao chão, dariam à princesa a ilusão da neve da sua terra.
O rei assim fez e no mês de Fevereiro do ano seguinte, quando as amendoeiras já estavam todas floridas e muitas pétalas pelo chão, ele convidou a princesa Gilda ao terraço mais alto do castelo e disse-lhe:
  • Gilda, vem comigo à varanda da torre mais alta do castelo e contemplarás um espectáculo encantador!
  • Vê – disse-lhe o rei sorrindo – como Alá é amável contigo. Os teus desejos estão cumpridos.
  • Ah! - exclamou ela.
Lágrimas de alegria surgiram nos seus lindos olhos azuis.
Gilda ficou tão contente que dentro em pouco estava completamente curada. A tristeza que a matava lentamente tinha desaparecido e Gilda sentiu que as suas forças regressavam ao presenciar aquela visão indescritível do branco alvo que se estendia a perder de vista. Sentia-se alegre e satisfeita junto do rei que adorava. E todos os anos, no início da primavera, ela via do alto da torre, vezes sem conta, as amendoeiras cobertas de lindas flores brancas que lhe lembravam os campos cobertos de neve da sua terra.
O rei mouro e a princesa Gilda viveram longos anos muito felizes e esperando ansiosos a chegada do mês de Fevereiro … porque o mês de Fevereiro trazia sempre, ano após ano, o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor!

1 Um estudante, natural da Ucrânia, conversando comigo sobre esta lenda, contou-me que os pais lhe disseram que a jovem princesa, Gilda, devia ser da Ucrânia porque naquela época, muita gente daquelas terras foi raptada para os haréns árabes do ocidente e Gilda é um nome que lá existe.
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Assim se explica também a abundância de amendoeiras que tem existido no Algarve e daí também a doçaria algarvia utilizar amêndoas em abundância em muitas e variadas receitas.

Quem quiser apreciar esta lenda em banda desenhada, só tem de clicar neste portal:


http://www.youtube.com/watch?v=NtaRei5qj9M&feature=youtu.be

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Os Bolos D. Rodrigo



Os Bolos D. Rodrigo
O Algarve tem uma muito rica e variada doçaria e eu, não sei porquê, tenho-me lembrado muito dela nesta Quaresma, principalmente dos bolos D. Rodrigo. Quem foi Dom Rodrigo? Este, Dom Rodrigo António de Noronha e Menezes, foi 40.o Governador do Algarve, na segunda metade do século XVIII. Os Governadores do Algarve tinham moradia oficial no Palácio dos Governadores de Lagos e no Castelo habitava o Alcaide da cidade, ambos dentro das muralhas de Lagos. Lagos foi elevada a capital do Algarve de1573 a 1762. Dom Rodrigo foi Governador do Algarve de um de Abril de 1754 até ao ano de 1762. Quando aconteceu o terramoto que arrasou Lagos no dia 01 de Novembro de 1755 e o maremoto que a cobriu completamente com a água do mar, Lagos ficou inabitável. Dom Rodrigo e a sua família estavam fora de Lagos e assim se salvaram. Quando chegaram, Dom Rodrigo enviou a sua família para Lisboa e ficaram ele e as suas tropas a limpar a cidade. As necessidades eram imensas e não havia dinheiro do reino, pois também Lisboa tinha ficado completamente arrasada. Com tantos pedidos e sem possibilidades de satisfazê-los, Dom Rodrigo entrega o seu cargo de Governador do Algarve ao rei Dom José I, em 1762. Este aceitou-o e extinguiu-o, passando a haver também no Algarve o cargo de Governador de Armas do Algarve que já havia para as outras províncias de Portugal. 
Os bolos D. Rodrigo que estão na origem desta confraria têm o seu surgimento no dia 01 de Abril de 1754, data da recepção oferecida pelo Alcaide de Lagos ao Governador do Algarve, Capitão-General D. Rodrigo António de Noronha e Menezes que tomava posse. Além da recepção festiva na sua chegada e da sua família a Lagos também houve um almoço-recepção no castelo do alcaide com a presença de todas as edilidades mais importantes de Lagos e arredores. As freiras do Convento do Carmo de Lagos, as Irmãs Carmelitas, também quiseram presentear o Governador do Algarve que tomava posse e, com a permissão do alcaide trouxeram para a mesa duas grandes e ovais travessas de prata de BOLOS D. RODRIGO e a Madre Superiora Carmelita, também convidada, explicou a D. Rodrigo estes bolos que lhe ofereciam, criados para esta ocasião e que foram denominados BOLOS D. RODRIGO. A doceira-mor e a cozinheira-mor do castelo ficaram descontentes, pois estes bolos foram muito apreciados por todos e louvados em detrimento de todos os outros apresentados pela doceira-mor.
Assim os BOLOS D. RODRIGO são bolos conventuais, criados no Convento do Carmo sediado em LAGOS, Portugal pelas Irmãs Carmelitas deste convento para o dia 01 de Abril de 1754 e percorreram os tempos até aos nossos dias muito apreciados por todos. Por isso esta é uma data a comemorar pela confraria.
Actualmente, século XXI, este bolo está a ganhar projecção nacional e internacional. Então chegou a hora de identificá-lo de forma correcta.
Se utilizarmos a sua designação completa como se faz com os bolos de outras regiões, por exemplo: o pastel de Belém ninguém o designa por Beléns e muitos outros exemplos se pode encontrar por este país fora.
Ora os bolos D. Rodrigo podem ser designados assim que é a forma mais apropriada e, na pastelaria, pedimos assim:
1 bolo D. Rodrigo
2 bolos Dom Rodrigo
3 bolos D. Rodrigo
........
mas é nosso costume encurtar tudo o que se diz de modo que a mensagem que se quer passar, chegue mais depressa ao receptor. Neste caso podemos omitir bolo(s) porque este significante é claro para a empregada da pastelaria e assim podemos dizer em português corrente
1 Dom Rodrigo
2 D. Rodrigo
3 D. Rodrigo
.......
porque o plural que advém da quantidade desejada só se pode aplicar ao significante “bolo” e não ao nome próprio que o identifica – D. Rodrigo,

É característica da doçaria algarvia ser confeccionada com amêndoa, calda de açúcar, fios de ovos, muitas gemas de ovos, …

De entre os bolos da nossa doçaria, gostaria de destacar:
  • as castanhas de amêndoa;
  • os florados de Lagoa;
  • os almendrados;
  • os figos de amêndoa e chocolate;
  • o tutano celeste;
  • o morgado de figo;
  • a amendoada;
  • os queijinhos do céu;
  • o morgado de Silves;
  • o bolo mimoso;
  • os bolos D. Rodrigo, naturalmente.







Naturalmente, porquê? Porque estes bolos, feitos com fios de ovos, amêndoas raladas, calda de açúcar, gemas e canela são envolvidos em papel vegetal e colocados em quadrados de folha de estanho, vulgarmente conhecida por “pratas”, que lhes dão uma forma final singular e única e a terra de origem destes bolos maravilhosos é  LAGOS.
Então com muito gosto partilho convosco estas fotos e espero a vossa vinda às nossas pastelarias onde não tenho qualquer participação financeira, mas tenho a certeza que se vão deliciar.
Sobre os morgados, antigamente as cores que os morgados orgulhosamente exibiam eram tal e qual telas pintadas a aguarela, suaves e súbtis, simplesmente delineadas, onde os tons primários do doce fino (perolado) prevaleciam na maior parte da superficie dos morgados. Os tons pastel continuam a ser os mais apelativos a degustar neste manjar dos deuses de sabor bem personalizado, quando confeccionado com amêndoas algarvias.

Estes morgados de amêndoa são recheados com fios de ovos, ovos moles e gila.
BIBLIOGRAFIA

(PAULA, Rui M.; Lagos – evolução urbana e património; edição de Câmara Municipal de Lagos; Lagos, Outubro de 1992, p.364)


http://goo.gl/RSVXh5    site da Confraria dos Bolos D. Rodrigo, Lagos, Portugal


Os meus filmes

1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv          http://www.youtube.com/watch?v=NtaRei5qj9M&feature=youtu.be
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada
4.º – Natal de 2012
5.º – Tempo de Poesia

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