O
Infante D. Henrique é o quinto
filho do casal D. João I e D. Filipa de Lancaster e nasceu no
Porto, no dia 04 de Março de 1394. Em 1405, o Infante D. Henrique
esteve a passar uns tempos, que não terão sido os únicos, na Corte
Inglesa com os primos ingleses((MEDINA
J.; vol. IV; 1994; p.17) e a adquirir saberes com um povo também de
sonhos marítimos.
Durante
a sua juventude, praticava desporto e artes de guerra e D. João I,
seu pai, confia-lhe a organização da frota concentrada no Porto com
gentes do Norte e da Beira para a expedição
a Ceuta. Reuniu 70 navios grandes e muitos outros de
abordagem.
Como
o ano decidido para a partida da expedição a Ceuta foi 1415,
certamente, pelo menos a partir de 1410, o Infante D. Henrique terá
começado a visitar Lagos para preparar a logística para esta
expedição e para a base estratégica permanente de Ceuta
nesta cidade.
Porquê
Lagos como base estratégica na defesa de Ceuta e posteriormente na
empresa dos Descobrimentos?
Pelos
mesmos motivos que levaram tantas embarcações desde a
proto-história a fazerem uma paragem em Laccobriga para
abastecimento de alimentos frescos, víveres e água muito cristalina
e boa e tantas gentes a fazerem deste local a sua morada. Grande
parte dos terrenos da zona baixa eram terrenos alagados e, portanto,
terrenos muitos férteis e indicados para hortas como as terras do
Paúl. Na página 43 do livro consultado lê-se que «Lagos
está assentada ao longo da costa do mar e que tem uma baía de légua
e meia de praia na qual se pode desembarcar com todo o género de
navio. Esta cidade tem comércio com todo o Levante e Poente de donde
vem a ela muitos navios e embarcações de toda a sorte com vária
mercadoria e isto por causa de grande carregação de atuns e
sardinhas e outros peixes que nela há abundantemente e o próprio
vinho e pão. É uma cidade sadia e de muito bons ares e a água não
lhe falta e é razoavelmente povoada e de gente de toda a sorte.»
Domingos
de Mello, deputado no Congresso em Lisboa e natural de Lagos, afirma
que "nenhuma das
cidades marítimas de Portugal tem uma baía tão bela, espaçosa e
capaz como Lagos coberta dos ventos Norte-Noroeste e Oeste-Noroeste
aonde em todos os tempos as armadas nacionais e estrangeiras ou
fossem navegando para o Mediterrâneo ou vindo para o Oceano, ali
faziam escala para se refazerem de refrescos, carnes e da preciosa
água que tem." (livro consultado p.67)
Esta
informação também era verdadeira para os séculos XIV e XV e toda
a família real o sabia, pois Lagos era uma cidade muito conhecida na
época exactamente por causa destas suas características. O Infante
D. Henrique também o sabia e o rei D. João I e assim escolheram
Lagos para base estratégica na defesa de Ceuta, provendo esta água,
alimentos e bens que lá fossem necessários para consumo, defesa e
comércio.
O
que encontrou o Infante D. Henrique em Lagos para além das
características já suas conhecidas desta cidade?
Encontrou
uma cidade dividida, com dois níveis muito acentuados de gente
que se odiava: um grupo – o dos privilegiados – de ordem
defensiva, vivendo na cidade murada; outro grupo – o dos
não-honrados – de produção e vivendo na área mais baixa e mais
afastada da vila. De permeio, uma colina não habitada onde pastava
gado bovino e cavalar.
Primeira
vontade decisiva de D. Henrique foi acabar com esta discriminação e
situação. Reuniu os melhores técnicos europeus em urbanização
que conhecia e o planeamento urbanístico começou.
Assim
ficou decidido drenar as duas ribeiras – Ribeira dos Touros e
Ribeira das Naus – e enchê-las de terra para construir dois largos
caminhos.
Segunda
decisão essencial – passar a cidade de dois pólos para três
pólos dentro da cidade murada, um em cada colina:
1.o
– Pólo da igreja Nossa Senhora da Graça que passa a pólo
da Ermida Nossa Senhora da Graça. A igreja Nossa Senhora da Graça
passa para Sagres no interior da futura Fortaleza de Sagres e a fazer
parte deste complexo do qual faria parte também a Escola de
Estudos Superiores Náuticos com a célebre rosa-dos-ventos que
ainda hoje lá existe e as instalações da dita Escola.
2.o
– Pólo da igreja de Santa Maria da Graça. A igreja da
cidade de Lagos passa a situar-se no centro da nova cidade murada na
parte baixa da colina do meio – futura colina de Nossa Senhora do
Carmo – chamar-se-á igreja de Santa Maria da Graça e ficará
perto do porto que se situava junto da Casa do Governador. Este novo
pólo a criar terá dois núcleos: um na baixa, rodeando a igreja da
cidade ligado à exportação e importação e ao comércio local e
outro pólo no alto da colina rodeando a futura ermida Nossa Senhora
do Carmo, pólo ligado aos habitantes que cuidavam dos terrenos
agrícolas de sequeiro que a rodeavam.
3.o
– Pólo da ermida de Nossa Senhora da Conceição que reúne
a sua população tradicional da colina (pescadores), da zona baixa
ao longo do rio de Lagos (comerciantes) e das hortas (agricultores)
da primitiva Lacóbriga (sempre extramuros).
Assim
a nova cidade murada de Lagos assemelhar-se-á a uma coroa real
olhando para o Atlântico com três pontas e mais duas formando a
base: cinco pontas, um pentágono.
Partamos
para os pormenores deste grandioso projecto.
Em
1385, segundo o recenseamento realizado, havia dentro da cidade
murada 1500 a 2000 vizinhos (famílias) de gente militar. Gente da
quarta esfera, os negociantes, os marítimos que tratavam das
almadravas (armações para a pesca do atum) e de 22 acedares
(armações para a pesca da sardinha) e outros indivìduos viviam
em casas localizadas fora das muralhas por lhes ser proibido
dentro da vila murada. (livro consultado, p. 355)
Na
p. 356 do mesmo livro, somos informados de que, em 1433, com o
Infante D. Henrique, havia 1100 fogos no interior da Praça
(vila murada); 200 fogos na Aldeia
da Porta do Postigo (ao redor da Ermida da Nossa Senhora da
Conceição); 450 fogos na periferia
(ao redor da ermida de Nossa Senhora do Carmo).
Após
a drenagem das duas ribeiras, a colina
do meio passou a ser a parte mais importante da vila
de Lagos onde foram construídas as casas privativas do Infante,
na Ribeira
(todo o espaço longitudinal ao longo do rio de Lagos na colina do
meio entre as anteriores Ribeira dos Touros e Ribeira das Naus).
Havia prosperidade económica. Era também o centro de
explorações marítimas com grande actividade comercial e
também a residência dos mareantes do Infante (estudantes da
Escola Superior Náutica de Sagres que tinham a sua prática nas
expedições para descobrimento de novas terras e novas gentes).
Ao
mesmo tempo em que era feita a drenagem das duas ribeiras, era
construída a igreja da cidade, igreja
de Santa Maria da Graça, com curado e para ser inaugurada
em Agosto de 1415, no dia em que a expedição partisse para Ceuta
com o rei, D. João I, os seus três filhos e D. Nuno Álvares
Pereira ao comando e assim os clérigos desta igreja - paroquial -
dariam a sua benção à expedição. Esta igreja planeou-se
situar-se exactamente no centro da colina do meio, centro da Nova
Lagos murada.
Antes
de 1415, é então mandada edificar por D. João I, mas por decisão
do seu filho, o Infante D. Henrique. Esta igreja na rua Nossa Senhora
da Graça que actualmente ainda existe com outra função e cuja
frente da igreja ainda existe também, perto do Mercado dos Escravos
e dos Paços do Concelho (actual Messe Militar) passa a ser a igreja
paroquial e freguesia dos habitantes intramuros.
Em
1415, o Infante D. Henrique destacou-se na conquista da cidade de
Ceuta, onde o seu pai o armou cavaleiro e aos seus dois irmãos mais
velhos. Em Setembro de 1415, tornou-se Duque
de Viseu e Senhor da Covilhã.
No
dia 18 de Fevereiro de 1416, passou a ser Administrador
e Governador da Ordem de Cristo e também em 1416, D. João I
confia ao seu filho D. Henrique o encargo de administrar o
dinheiro destinado à defesa de
Ceuta.
A
necessidade de navegar por mares percorridos por grandes tempestades,
por regime de ventos e por grossas correntes marítimas que
arrastavam até às Canárias e posteriormente até ao arquipélago
da Madeira navios
portugueses encarregados da defesa costeira meridional de Portugal e
de Ceuta, levou o
Infante D. Henrique a iniciar a exploração dos mares e a lançar-se
na empresa dos descobrimentos.
A
13 de Novembro de 1460, o Infante D. Henrique faleceu na Raposeira e
nessa mesma noite ficou sepultado em Lagos, sua Vila (do Infante)
nesta igreja Matriz de Santa Maria da Graça. A escolha desta igreja,
que era igreja Maior, paroquial, para primeira sepultura do Infante
D. Henrique até à sua trasladação para a jazida real do Mosteiro
de Santa Maria da Batalha em Lisboa, leva-nos a supor que este
acontecimento ainda mais elevou a importância de Lagos.
Em
1490, faz-se a conclusão das grandes remodelações na cidade: são
construidas a Praça dos Touros
onde antes era a desembocadura da Ribeira dos Touros (actual Praça
do Infante D. Henrique) e a Praça do
Cano (actual Praça Gil Eanes) onde era a desembocadura da
Ribeira das Naus. Os centros populacionais já estão unidos e passam
a um só com duas freguesias: Santa Maria da Graça e S. Sebastião.
Relativamente
ao quotidiano em Lagos, segundo documento de 08 de Julho de 1410, D.
João I isenta os lacobrigenses do pagamento de sisa
(imposto sobre o valor das transacções) sobre os bens comprados aos
venezianos.
O
centro de Lagos expande-se pelos subúrbios extramuros em torno da
estrada para Sagres que agora é importante centro devido à Escola
Superior de Estudos Náuticos que o Infante D. Henrique lá
fundou dentro da Fortaleza de Sagres que ainda lá se encontra. O
número de casas aumenta a tal ritmo que em tempos do rei D. Manuel I
atingiu a colina de Nossa Senhora da Conceição/S. Sebastião.
No
dia 26 de Julho de 1415, D. João I entra na baía de Lagos com a
esquadra que iria tomar Ceuta,
no Norte de África, formada por 19 000 combatentes, 1700 marinheiros
e 200 navios. Ao terminar esta campanha, também desembarcou na baía
D. João I e o Condestável D. Nuno Álvares Pereira que, após,
seguiram para Évora. Ceuta era um importante centro comercial
terrestre e marítimo. Situava-se numa região agrícola rica e num
bom ponto estratégico que dominava o Estreito de Gibraltar e podia
servir de base para novas conquistas.
Da
baía de Lagos saíram as primeiras caravelas com os mareantes do
Infante que passam além dos conhecidos limites do mundo de então.
Em
Lagos passam a morar grande número de ingleses, facto relacionado
com a ascendência inglesa do Infante D. Henrique e a sua proximidade
afectiva à corte inglesa e o desenvolvimento marítimo a nível de
estudos, a nível de viagens e a nível de comércio de
exportação/importação que se vivia naquela altura em Lagos.
A
concretização deste planeamento ultrapassará a vida do Infante D.
Henrique. Será o rei D. Manuel I que mandará construir as muralhas
estabelecidas neste plano e assim completar este projecto gigantesco
do Renascimento realizado na cidade de Lagos quatrocentista.
Em 1415, destacou-se na conquista da cidade de Ceuta, onde
o seu pai o armou cavaleiro e aos seus dois irmãos mais velhos. Em
Setembro de 1415, tornou-se Duque de
Viseu e Senhor da Covilhã.
No
dia 18 de Fevereiro de 1416, passou a ser Administrador
e Governador da Ordem de Cristo e também em 1416, D. João I
confia ao seu filho D. Henrique o encargo de administrar o
dinheiro destinado à defesa de
Ceuta.
A
necessidade de navegar por mares percorridos por grandes tempestades,
por regime de ventos e por grossas correntes marítimas que
arrastavam até às Canárias e posteriormente até ao arquipélago
da Madeira navios
portugueses encarregados da defesa costeira meridional de Portugal,
levou o Infante D. Henrique a iniciar a exploração dos mares e a
lançar-se na empresa dos descobrimentos. Durante o reinado de D.
João I surge o descobrimento de Porto
Santo (1419), da Madeira
(1420) e do grupo oriental dos Açores
(1427). D. Henrique persegue este sonho de descobrir o Desconhecido,
quer saber o que está para além de ... com os seus marinheiros,
cavaleiros e escudeiros, mercadores e capelães, ele vai experimentar
durante 45 anos,
o que é obedecer a um plano cientificamente estudado, ao mesmo
tempo, expor a sua vida à Fortuna. Na concepção da época,
renascentista, o homem individual integrava-se num todo. Diligente
e persistente, o êxito das primeiras expedições marítimas
entusiasmam-no ainda mais e no dia 20 de Maio de 1420, é investido
pelo Papa Martinho V, ficando
deste modo com valiosos recursos para a realização do seu sonho
ultramarino.
Para
o adestramento técnico dos seus marinheiros e para arquivar as
experiências e realizações obtidas, D. Henrique rodeou-se de
peritos, fundando em Sagres uma autêntica Escola
Superior de Estudos Náuticos, chamando a Portugal, entre
outros mestres, o já célebre cartógrafo Jácome
de Maiorca que, com os elementos fornecidos pelos navegantes
portugueses, elaborou novas cartas náuticas.
Entre
os interesses determinantes da dedicação do Infante D. Henrique às
navegações contam-se os de ordem religiosa – espírito de
cruzada que lhe impunha a defesa política e económica e a
propagação da fé católica, mas a sua dedicação à empresa
marítima não era em exclusivo.
Não
desligado dos problemas nacionais e em especial da universidade de
Lisboa de que era protector atento, os seus interesses também se
centravam nas terras de além-mar e para isso viveu a maior parte do
seu tempo para a Escola Superior de
Estudos Náuticos em
Sagres.
Enormes
eram os problemas que tinha para resolver e estavam sob a sua
responsabilidade:
- a preparação e execução das expedições marítimas,
- a colonização dos arquipélagos da Madeira e dos Açores,
- as relações com África recém-descoberta nas perspectivas comercial, política e missionária,
- a responsabilidade do governo da Ordem de Cristo,
- a defesa dos direitos e interesses de Portugal junto do Papa e do rei de Castela.
Em
1431, reorganizou os estudos da Universidade de Lisboa, onde
introduziu os estudos da Matemática
e da Astronomia, universidade
que dava apoio a vários níveis à Escola Superior de Estudos
Náuticos de Sagres e como podemos verificar também obtinha
vantagens deste protocolo.
Em
1437, participou na infeliz expedição a Tânger e na conquista de
Alcácer Ceguer, em 1457. Será
denominado o Navegador
e assim ficará conhecido na História Portuguesa e Universal.
No
dia 20 de Maio de 1449, na crise que culminou na batalha
de Alfarrobeira, o Infante D. Henrique esforçou-se por
defender o irmão, Infante D. Pedro, em Santarém; mas em Alverca,
respeitando a autoridade do sobrinho e rei, manteve uma atitude
passiva ao lado do rei, D. Afonso V. (OLIVEIRA M. A.; 1990; pp. 221,
266, 275.)
Em
1449, em Alfarrobeira, morre o Infante D. Pedro na batalha, já sem a
regência. Quando D. Pedro deixa a regência vai viver para o seu
ducado de Coimbra, mas parece estar em graves dificuldades
financeiras. Surge um conflito familiar entre D. Pedro e o casal
real, mas era ao rei que cabiam todas as decisões da Coroa.
Há
um momento em que D. Pedro se recusa a cumprir uma ordem de D. Afonso
V, receoso de cair nas mãos dos seus adversários, conselheiros do
rei. O Infante D. Henrique intervém em Santarém e o conflito
parece resolver-se. D. Afonso V chama à corte D. Afonso, Duque de
Bragança e D. Pedro, Duque de Coimbra, para que o conflito entre os
dois ficasse resolvido de vez. D. Pedro nega passagem ao Duque de
Bragança quando este tenta passar por Coimbra para chegar à Corte
em Lisboa. D. Pedro decide ir pedir justiça ao rei, seguindo à
frente dos seus 6000 homens de armas. O rei prepara-se para tudo,
pois Portugal não pode ficar dividido. O rei avança com muitos mais
homens contra o tio. O tio, D. Pedro, vê-se perseguido, insultado no
caminho pelos soldados do rei e consegue mandar matar cerca de
trinta, sendo um deles, fidalgo da Casa do Infante D. Henrique. Em
Alfarrobeira, os homens de armas de D. Pedro e do rei com o Infante
D. Henrique estão frente a frente. Os soldados do rei começam as
escaramuças e D. Pedro manda disparar as bombardas. Muitos dos
homens de D. Pedro abandonaram-no antes da batalha e D. Pedro morre a
lutar.
Dos
vários testemunhos que ainda existem sobre o Infante D. Henrique,
transcrevo o que encontrei na Crónica do Senhor José Paula Borba
«LAGOS esta cidade que eu amo ...»
no jornal CORREIO de LAGOS n.o 244
de Novembro/Dezembro de 2009: texto "(...) relatado pelo
navegador Diogo Gomes que também
era um fiel servidor da Casa
do Infante.
«No
ano do Senhor de 1460, o Senhor Infante D. Henrique adoeceu na
Raposeira que fica perto do Cabo de S. Vicente, do que morreu a 13 de
Novembro do dito ano, numa quinta-feira. E naquela noite em que
morreu, levaram-no para a Igreja de Santa Maria (da Graça), na Vila
de Lagos – Vila do Infante, onde foi sepultado honrosamente. E o
rei, o Afonso (V) estava então na cidade de Évora e ficou muito
triste com o seu povo pela morte de tão grande senhor; porque todos
os rendimentos que tinha e tudo o que provinha da Guiné gastava em
guerra e em contínua armada no mar contra os sarracenos, pela fé
cristã. No fim do ano, o rei Afonso mandou-me chamar, pois
continuamente eu ficara, por mandado do rei, em Lagos, junto do corpo
do Infante, dando o que era necessário aos sacerdotes que se
empregavam em contínuas vigílias e no Ofício Divino e mandou que
eu visse e examinasse se o corpo do Infante estava putrefacto porque
queria trasladar os ossos dele para o Mosteiro,
realmente formosíssimo, que se chama Santa
Maria da Batalha, que seu pai, o
rei D. João I, edificara com frades da Ordem dos Pregadores. Eu, com
efeito, chegando ao corpo do defunto, descobri-o e encontrei-o seco e
integro. E encontrei-o cingido por cilício áspero de sedas de
cavalo; pois bem canta a Igreja: non
dabis sanctum tuum videre corruptionem (não permitirás
que o teu santo sofra a corrupção). O qual Senhor Infante até à
morte permaneceu virgem e fez em sua vid❐a
muitos benefícios que seria muito extenso contar. Então, o rei
mandou ir o seu irmão Senhor Infante D. Fernando, duque de Beja e os
bispos e condes afim de levarem o corpo até ao Mosteiro da Batalha
supradito, onde o rei esperava o corpo do defunto. E foi posto o
corpo do Infante na capela formosíssima e grande que o seu próprio
pai, o rei D. João I fizera, onde o mesmo rei jaz com sua esposa D.
Filipa, mãe dele e cinco irmãos do mesmo, dos quais todos louvável
memória haverá até à eternidade. E descansam em santa paz. Amem.»
Para
terminar esta evocação, não posso deixar de incluir o belo soneto
do nosso poeta Vieira
Calado.
Baía
e Infante D. Henrique
Na
curva inolvidável da Baíaque ao mar bravio roubou o Bojador,
paira a sombra fantástica vigia
desse Infante que foi navegador.
Pega a bússola, a régua, a fantasia,
arrasa velhos mitos sem temor
e em Lagos e em Sagres dia-a-dia
faz argonauta o sábio e o pescador.
Desencobre dos mares os segredos
e no abismo dos mitos derradeiros
desfaz em clara luz p'rigos e medos.
E tu, Lagos, berço dos marinheiros,
és a própria figura do Infante
que ao Mundo mundos deu, mais adiante.❐
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