quarta-feira, 14 de março de 2012

O Cemitério de Lagos


O Cemitério de Lagos

O cemitério de Lagos encerra muita história e são muitos os turistas que o procuram para visitá-lo certamente já informados por amigos e conhecidos das suas terras porque, por nós, não é divulgado pelos circuitos de turismo.
Porque é que eles o procuram?
Acredito que seja porque nas suas terras já não há cemitérios assim, mas sim semelhantes ao cemitério novo que cá temos. Este cemitério que os turistas procuram talvez numa nostalgia dos seus antigos cemitérios é o cemitério dos jazigos e das campas de mármore, das obras de escultura neoclássicas que os ornamentam e também dos nomes das famílias ilustres que por cá viveram e foram falecendo e que de muitas maneiras contribuíram para o bom nome desta cidade.
Gostaria de recordar que este é o primeiro cemitério da cidade de Lagos e que data de 14 de Abril de 1893.
Até ao século XIX, os enterramentos faziam-se dentro e fora das igrejas-paróquias de S. Sebastião e de Santa Maria da Graça que era a igreja matriz até ao terramoto de 1755 e após na igreja da Misericórdia que depois se denominou igreja de Santa Maria.


A 01 de Novembro de 1755, a igreja matriz de Santa Maria da Graça é arrasada pelo terramoto e não é recuperada. A Câmara Municipal atribuiu as funções de cemitério ao espaço ocupado pelo convento e hospital S. João de Deus que circundavam a igreja e que também tinham ficado arrasados – cemitério da paróquia de Santa Maria da Graça - que, por vários motivos, incluindo as epidemias da peste e da cólera, foi projecto que durou muito pouco, sendo o cemitério abandonado e demolido. Nesta altura, já se pretendia separar o cemitério da igreja embora ficasse contíguo.


A 14 de Abril de 1893, a Câmara Municipal ordena que se façam os enterramentos na freguesia de S. Sebastião, no lado de fora das muralhas, mais exatamente do baluarte da Porta do Postigo, para ambas as freguesias. (PAULA, Rui M.; Lagos – evolução urbana e património; edição de Câmara Municipal de Lagos; Lagos, Outubro de 1992, p.367)
meu filme no youtube:

domingo, 4 de março de 2012

As Amendoeiras em Flor do Algarve


 
  
Hoje venho partilhar convosco este momento lindo e também o filme que fiz para este tema cujo link está no fim deste texto.
Neste mês de Fevereiro, pelo meu caminho em Lagos, encontrei, entre outras, uma amendoeira jovem e carregadíssima de flores. Fiquei contente porque isso é prenúncio de muitas amêndoas este ano, pois cada flor será uma amêndoa, se não for arrancada à árvore. Assim deixei todas as flores na árvore e fixei o momento com a máquina fotográfica. Na minha adolescência, aprendi que, em Portugal, só temos amendoeiras no Algarve e no vale do rio Douro e, apesar de se tratar de um facto, achei isso lindo: parecia-me um abraço entre o sul e o norte.
Mais uma vez, me lembrei da Lenda das Amendoeiras em Flor. Conta a lenda assim:

Há muitos séculos, entre os anos 716 e 1248, os árabes ocuparam todo este território que anteriormente tinha sido ocupado pelos romanos e a seguir pelos visigodos. Os árabes tinham, neste território, o mesmo sistema administrativo que tinham nas suas terras, isto é, cidades-Estado como os territórios que depois se denominaram Itália, Grécia, … Era comum naquela época. Os árabes denominaram esta parte do território Al-Gharb e em Chelb, futura Silves, reinava o famoso e jovem Ibn Almundim que nunca tinha conhecido uma derrota, pois eles andavam sempre em guerra: ou uns contra os outros ou contra os infiéis.
Certo dia, entre os prisioneiros que os oficiais-militares de Ibn Almundim trouxeram de uma grande batalha,1 este viu uma linda jovem, princesa, de olhos azuis e porte altivo. Chamava-se GILDA e era conhecida como a Bela Princesa do Norte (mais precisamente do Leste). Impressionado com tamanha beleza, o rei mouro tirou-a das concubinas para o servir e, a pouco e pouco, foi-lhe conquistando a confiança. Certo dia, confessou-lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua esposa, depois de adoptar a religião muçulmana.
Durante algum tempo foram muito felizes e o palácio estava sempre em festa, mas a princesa Gilda ia ficando cada vez mais triste e mais doente; uma tristeza profunda que a fazia recusar a comida e passava os dias sozinha nos seus aposentos sem querer ver ninguém …
Ibn Almundim mandou chamar os melhores médicos do seu reino e de reinos mais distantes, mas nenhum conseguiu curar a sua amada e ele já estava desesperado.
O acontecido espalhou-se por todo o palácio e chegou ao conhecimento dos prisioneiros que vieram com Gilda. Então um cativo já idoso, ainda familiar/serviçal de Gilda, pediu ao rei para ser recebido e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve abundante que havia no seu país distante. O rei de imediato chamou os seus conselheiros que lhe sugeriram que mandasse plantar amendoeiras por todo o reino. Muitas amendoeiras e, quando estas florissem e as suas pétalas caíssem ao chão, dariam à princesa a ilusão da neve da sua terra.
O rei assim fez e no mês de Fevereiro do ano seguinte, quando as amendoeiras já estavam todas floridas e muitas pétalas pelo chão, ele convidou a princesa Gilda ao terraço mais alto do castelo e disse-lhe:
  • Gilda, vem comigo à varanda da torre mais alta do castelo e contemplarás um espectáculo encantador!
  • Vê – disse-lhe o rei sorrindo – como Alá é amável contigo. Os teus desejos estão cumpridos.
  • Ah! - exclamou ela.
Lágrimas de alegria surgiram nos seus lindos olhos azuis.
Gilda ficou tão contente que dentro em pouco estava completamente curada. A tristeza que a matava lentamente tinha desaparecido e Gilda sentiu que as suas forças regressavam ao presenciar aquela visão indescritível do branco alvo que se estendia a perder de vista. Sentia-se alegre e satisfeita junto do rei que adorava. E todos os anos, no início da primavera, ela via do alto da torre, vezes sem conta, as amendoeiras cobertas de lindas flores brancas que lhe lembravam os campos cobertos de neve da sua terra.
O rei mouro e a princesa Gilda viveram longos anos muito felizes e esperando ansiosos a chegada do mês de Fevereiro … porque o mês de Fevereiro trazia sempre, ano após ano, o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor!

1 Um estudante, natural da Ucrânia, conversando comigo sobre esta lenda, contou-me que os pais lhe disseram que a jovem princesa, Gilda, devia ser da Ucrânia porque naquela época, muita gente daquelas terras foi raptada para os haréns árabes do ocidente e Gilda é um nome que lá existe.
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Assim se explica também a abundância de amendoeiras que tem existido no Algarve e daí também a doçaria algarvia utilizar amêndoas em abundância em muitas e variadas receitas.

Quem quiser apreciar esta lenda em banda desenhada, só tem de clicar neste portal:


http://www.youtube.com/watch?v=NtaRei5qj9M&feature=youtu.be